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Governador gay quer Sicília mais liberal

ITÁLIA
Abertamente gay, católico devoto, esquerdista e inimigo da Máfia, Rosario Crocetta rompeu com os padrões quando foi eleito governador da profundamente conservadora Sicília, no mês passado.

Há muito tempo a ilha é mais conhecida pelo machismo, a corrupção e a Máfia homicida do que por sua política progressista, mas o ex-comunista Crocetta, fumante inveterado, ganhou uma eleição regional e diz que vai promover uma revolução.

"Vou mostrar que esta região pode ser a mais liberal da Europa. Com certeza estarei exposto à oposição do velho sistema político, a camadas de patronato mafioso, mas estou preparado para lutar", declarou.

Crocetta, 61, já escapou de pelo menos três atentados da Máfia e foi eleito para o Parlamento Europeu em 2009. O político não poderia formar um contraste maior com seus predecessores, sob cuja égide a Sicília chegou perto da falência.

Ele veio substituir Raffaele Lombardo, que deixou o cargo em julho depois de ser acusado de ter ligações com a Máfia. O líder regional anterior, Salvatore Cuffaro, está cumprindo pena de sete anos de prisão, depois de ser condenado por delitos semelhantes.

Crocetta disse que pretende lançar uma série de medidas contra a Máfia, além de fomentar os direitos dos gays e outros direitos civis.

Ele foi o primeiro prefeito italiano abertamente gay e hoje é o segundo governador declaradamente homossexual no país (o primeiro foi Nichi Vendola, de Puglia), não enxergando nisso nenhuma contradição com sua devoção católica.

Vê sua eleição como parte de um movimento geral do eleitorado italiano contra uma classe política tradicional profundamente impopular e desacreditada.

Crocetta ficou conhecido inicialmente como líder, durante seis anos, da cidade de Gela, dominada pela Máfia, na costa sudoeste da Sicília, onde ele apoiou uma organização de empresários que se recusavam a pagar o "pizzo", ou dinheiro de extorsão -fonte importante de receita de uma máfia local conhecida como a Stidda.

"Durante meu tempo como prefeito, 150 comerciantes denunciaram ter sido vítimas de tentativas de extorsão, e foram detidos 850 mafiosos e extorsionários -- um número impressionante."
PROTEÇÃO POLICIAL Crocetta concedeu a entrevista na sede em Roma de seu partido, o Democrata (PD), de esquerda. Do lado de fora o aguardavam duas viaturas e vários agentes que fazem sua segurança constante.

Quando lhe é perguntado se ele teme por sua vida, o governador responde com uma gargalhada: "Sou muito sereno. Sou uma pessoa alegre. Gosto da vida, sou muito feliz, sou gay."

Ele cita as palavras do magistrado antimáfia Giovanni Falcone, assassinado em 1992: "Se você tem medo, morre todos os dias. Se não tem medo, só morre uma vez." Crocetta diz que a Máfia o odeia porque, quando era prefeito, tirou contratos de obras públicas dela, despedindo mafiosos -incluindo a mulher de um chefão importante- e expondo empresários envolvidos com o crime organizado. "Isso atraiu muita inimizade em minha direção."

Um chefão mafioso que contratou um matador lituano para assassiná-lo em 2003 foi ouvido numa conversa gravada descrevendo Crocetta como "aquele comunista veado".

Como governador da Sicília, ele pretende redigir uma "lista branca" de firmas que não têm envolvimento com a Cosa Nostra e que terão acesso privilegiado a contratos públicos. E diz que fará uma força-tarefa para prestar assistência a vítimas da Máfia.














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