Ignacy
Sachs tece análise técnica e filosófica sobre o desenvolvimento econômico e os
rebatimentos no campo do desenvolvimento social, durante o século XX,
explicitando a evolução do crescimento econômico, a acumulação de ativos e
rendas pelas nações industrializadas, assim como o avanço da tecnologia, avanço
este responsável pelo aumento da produção em todo mundo. Mas apesar de toda
riqueza e do progresso conquistado, as desigualdades sociais continuam
inaceitáveis, enquanto o fosso entre ricos e pobres só tem aumentado.
Para Ignacy, o século XX, apesar de ter produzido muitas riquezas,
proporcionando uma “prosperidade global sem precedentes”, não
conseguiu fazer com que essas riquezas fossem distribuídas “entre as nações
e no interior delas”, o que gerou enormes “problemas sociais e
humanitários assustadores”; verificaram-se nesse século grandes conflitos
humanitários com guerras “horrendas” em que milhões de pessoas foram
dizimadas; na visão do Economista o século XX deixou um legado de “frustração” por
ter deixado “um sistema internacional fraco demais para promover uma paz
duradoura, equidade e desenvolvimento genuíno”.
O ilustre economista discorre sobre as mudanças ocorridas durante o
século como de natureza “formidáveis, apesar das duas guerras mundiais
assassinas e terrivelmente destrutivas”. Aponta o crescimento da população
mundial de 1,7 para seis bilhões de pessoas; o crescimento da expectativa de
vida, onde nos países industrializados saltou de 45 para 75 anos; nos países
pobres, a partir de 1900, passou de 25 para 63 anos, já em 1985, ocorreu um
crescimento considerado “espetacular” no seu entendimento.
Aponta ainda a grande redução de morte motivada por parto, desde 1940; o
crescimento do PNB global, em consequência da melhora na produtividade do
trabalho, muito embora esse aumento não tenha sido distribuído igualitariamente
entre cada habitante do planeta, o que contribuiu para aumentar o fosso entre
ricos e pobres, em que se verificou um incremento cristalizado em “sete
vezes na década de 1990”.
Assevera Ignacy que a grande concentração de renda faz com que “1,3
bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; cerca de 800 milhões
pessoas estão subnutridas; e 30% da força de trabalho mundial estão
desempregadas ou severamente subempregadas; enquanto mais de 250 milhões de
crianças estão trabalhando como operários infantis”.
Na visão de Ignacy Sarch, até mesmo “os países mais industrializados
têm sérios problemas sociais e enfrentam uma exclusão maciça”, cita
como exemplo os Estados Unidos, onde existem “quase dois milhões de
pessoas em prisões”.
“O crescimento é necessário, mas de modo algum suficiente”
Há uma contradição entre crescimento econômico e desenvolvimento social,
pois, o que se percebe é que, apesar do aumento da produtividade na economia
global, em face das inovações tecnológicas, verifica-se certa dramaticidade da
situação social com inúmeras vidas sendo desperdiçadas. O crescimento por si só
não é garantia de um desenvolvimento social sustentável com paz e felicidade
para as pessoas.
Ignacy aponta o “crescimento por meio da desigualdade, com
efeitos sociais perversos: a acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria com
uma produção simultânea de pobreza maciça e a deterioração das condições de
vida”, como uma situação comum. Entende que o crescimento econômico deve
ser concebido com a mitigação dos impactos ambientais negativos e posto a
serviço de um desenvolvimento socialmente aceitável.
“O domínio da política”
Na sua concepção, só com o domínio da política, com a capacidade de
orientação no processo de desenvolvimento, em que se tenha como eixo um projeto
criado democraticamente, bem como a criação de um sistema de regulamentação,
envolvendo as esferas publica e privada, será possível reconciliar o
crescimento econômico com o desenvolvimento social.
Acredita que “o potencial de desenvolvimento de um país depende, em
primeiro lugar, de sua capacidade cultural de pensar sobre seus futuros
desejáveis de maneira endógena”. Lembrando Celso Furtado, cita a
necessidade de formulação de políticas de desenvolvimento voltadas para as
metas “substantivas a serem alcanças”, e fugir da lógica imposta pela
acumulação, determinada “pelas empresas transnacionais”.
Por fim, conclui afirmando que a “democracia é o valor primordial. Deve
ser interpretada de maneira consistente, ao ampliarem os espaços de manobra
daquilo que é reconhecido como democracia direta, afirmando-se a centralidade
dos direitos humanos como a lei suprema”.
Acrescenta que o desenvolvimento é o resultado de uma ideia
principal (“idée-force”), surgida a cerca de 60 anos, e que nasceu
para “orientar a reconstrução do pós-guerra”, considerado o maior
acontecimento ocorrido no mundo “geopolítico no século XX”, juntamente
com a criação da ONU que tinha como “fundamento filosófico a preservação da
paz”. Porém, o que se verificou foi o distanciamento da “retórica e a
realidade”, em que a doutrina do capitalismo neoliberal frustrou todas as
expectativas do conceito de desenvolvimento idealizado. Entretanto, “as
condições materiais para avançar nessa direção são melhores do que nunca. Não
temos o direito de falhar nessa tentativa”, argumenta o economista.
Ignacy Sachs é um economista polonês nascido em Varsóvia em
1927, defende a tese de que o desenvolvimento deve ser combinado com crescimento
econômico, aumento do bem estar social e preservação ambiental.