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Não aprendemos nada

Paulo Panossian

Na década de 50 do século passado, na parte superior de um sobrado na Rua Florêncio de Abreu, centro de São Paulo, funcionava um salão de danças ou, gafieira famosa na época, conhecida como Clube 28.  Quis o destino que um grande incêndio atingisse o local, matando 50 pessoas. Para adentrar ou sair desse sobrado havia apenas uma porta, e a escada era de madeira, onde mais de 250 pessoas se acotovelavam para curtir as noitadas. E esse incêndio configurava-se como o da maior tragédia no Brasil...
Passados quase 60 anos, mais outros episódios de triste lembrança, até fora do país, nossas autoridades nada aprenderam para garantir um mínimo de segurança à sociedade. E a prova disso está na tragédia que ocorreu na madrugada do último domingo em Santa Maria, RS, numa boate que só funcionava devido à total insanidade dos responsáveis. Mesmo sabendo que seu espaço interno poderia receber até 1.500 pessoas, deviam saber também que só havia uma porta tanto para entrar como para sair, sem janelas, sem condições para comportar a multidão de jovens que lá foram para se divertir na noite de sábado para domingo. Resultado: até aqui 231 jovens mortos e 75 feridos, alguns deles em estado desesperador.  
Agora a polícia está prendendo os músicos da banda devido ao uso de material pirotécnico, suposto causador do incêndio, e o dono da casa noturna. E o prefeito da cidade, o governador do estado, os responsáveis pelo Corpo de Bombeiros, não serão presos também? Esses são os verdadeiros culpados, porque não fiscalizam e permitem o funcionamento destes recintos sem as devidas precauções. Assim como permitem o funcionamento irregular também de muitas igrejas evangélicas espalhadas pelo Brasil afora, a troco de apoio político, sem que as condições de segurança sejam compatíveis com a legislação, colocando assim em alto risco milhares de fiéis.  
Este é o país do faz de conta. Se hoje quase somos proibidos de sair de casa porque os índices de violência são absurdamente altos, os nossos filhos também serão privados de frequentar suas justas noitadas ou, se as frequentarem, não teremos nós a certeza de que voltarão vivos para seus lares, porque as leis não se cumprem por absoluta inércia ou desinteresse das autoridades.
Para onde vão os fartos recursos dos contribuintes que são recolhidos ao fisco?  Será que apenas servem para orgia dos que dirigem as nossas instituições? Para se valerem de um sem-número de espertezas, como desvios de recursos, até para manutenção de suas amantes?
Austeridade e competência não são somente palavras para adornar o dicionário. Seu significado maior é nobre. Ou seja, é o de servir com dignidade também a nação, atendendo com celeridade e eficiência aos clamores da sociedade.  Inclusive, na área de segurança, para evitar tragédias horrorosas, como essa a que estamos assistindo, com a morte de tantos jovens. Que Deus conforte as famílias que nesta hora choram a morte e os ferimentos de seus queridos.
Jornal do BrasilPaulo Panossian é Jornalista
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