Gonzagão, Rei do Baião |
Luiz‘Lua’ Gonzaga ‘Gonzagão’ do Nascimento – conhecido como o Rei do baião. Foi uma das
mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira.
Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba, triângulo, levou a alegria
das festas juninas e dos forrós de pé-de-serra, bem como a
pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra,
o sertão nordestino, ao resto do país, numa época em que a maioria
desconhecia o baião, o xote e o xaxado.
Admirado por grandes músicos, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas,
Caetano Veloso, entre outros, o genial instrumentista e sofisticado inventor de
melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções
"Baião" (1946), "Asa Branca" (1947), "Siridó"
(1948), "Juazeiro" (1948), "Qui Nem Jiló" (1949) e
"Baião de Dois" (1950).
Início de vida
Luís Gonzaga do Nascimento nasceu numa sexta-feira no dia 13
de dezembro de 1912, numa casa de barro batido na Fazenda Caiçara, povoado do
Araripe, a 12 km de Exu (extremo oeste do estado de Pernambuco, a 610 km
do Recife e a 80 km de Juazeiro do Norte, Ceará), segundo filho
de Ana Batista de Jesus (‘Mãe Santana’) e oitavo de Januário José dos Santos
(“Seu Januário”). O padre José Fernandes de Medeiros o batizou na matriz
de Exu em 5 de janeiro de 1913.
Deveria ter o mesmo nome do pai, mas na madrugada em que nasceu seu pai
foi para o terreiro da casa, viu uma estrela cadente e mudou de idéia. Era o
dia de São Luiz Gonzaga no mês do Natal, o que explica a adoção do
sobrenome "Nascimento".
O lugar natal é no sopé da Serra do Araripe, e inspiraria
uma de suas primeiras composições, "Pé de
Serra". Seu pai trabalhava na roça, num
latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão; também consertava o instrumento.
Foi com ele que Luiz aprendeu a tocar. Não era adolescente ainda quando passou
a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai.
Autêntico representante da cultura nordestina manteve-se fiel às suas origens
mesmo seguindo carreira musical no sudeste do Brasil. O gênero musical que
o consagrou foi o baião. A canção emblemática de sua carreira
foi Asa Branca, composta em 1947 em parceria com o advogado e cearense Humberto
Teixeira.
Antes dos dezoito anos Luiz teve sua primeira paixão: Nazarena, uma moça da região. Foi rejeitado pelo pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, que não o queria para genro e
ameaçou-o de morte. Mesmo assim Luiz e Nazarena namoraram algum tempo
escondidos e planejavam o futuro. Januário e Santana lhe deram uma surra ao descobrirem que ele se envolveu com a moça.
Revoltado por não poder casar-se com a moça, e por não querer morrer nas mãos
do pai dela, Luís Gonzaga fugiu de casa e ingressou no exército no Crato, Ceará. Durante nove anos viajou por vários
estados brasileiros, como soldado, sem dar notícias à família. Não teve mais
nenhuma namorada, passando a ter amantes, até se casar.
Carreira
Em Juiz de Fora, Minas Gerais, conheceu Domingos Ambrósio, também
soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. A partir
daí começou a se interessar pela área musical.
Em 1939, deu baixa do exército na cidade
do Rio de Janeiro. Estava decidido a se dedicar à
música. Na então capital do Brasil, começou por tocar nas áreas de prostituição
da cidade. No início da carreira, apenas solava acordeão em choros,
sambas, foxtrotes e outros gêneros da época. Seu repertório era
composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em
programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico
profissional: paletó e gravata. Até que, em 19041, no programa
de Ary Barroso, foi aplaudido executando Vira e Mexe,
com sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe
valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas
instrumentais. Vira e mexe foi a primeira
música que gravou em disco.
Veio depois sua primeira contratação, pela Rádio Nacional.
Lá conheceu o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, que usava os trajes típicos
da sua região. Daí surgiu à idéia de apresentar-se vestido de vaqueiro,
figurino que o consagrou como artista.
Em 11 de abril de 1945, gravou sua
primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor:
a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo
Augusto Silveira Oliveira.
Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odaléia
‘Léia’ Guedes dos Santos deu à luz um menino, no Rio. Luís Gonzaga mantinha um
caso havia meses com a moça, iniciados quando já estava grávida. Sabendo que
sua amante seria mãe solteira, assumiu a paternidade da criança, adotando-o e
dando-lhe seu nome: Luís
Gonzaga do Nascimento Júnior.
Odaléia, que além de cantora de coro era sambista, foi expulsa de casa
por ter engravidado do namorado, que não assumiu a criança. Foi parar nas ruas,
até ser ajudada, descobrindo-se seu talento para cantar e dançar, passando a se
apresentar em casas de samba no Rio, quando conheceu Luiz. A relação com Luiz era conflituosa e, após o nascimento do menino,
piorou, com muitos ciúmes, separaram‐se com menos de 2
anos de convivência. Léia criou o filho, e Luiz os visitava.
Em 1946 voltou pela primeira vez a Exu (Pernambuco), e
reencontraram seus pais, Januário e Santana, que havia anos não sabiam nada
sobre o filho e sofreram muito esse tempo todo. O reencontro com seu pai é
narrado em sua composição Respeita Januário, em parceria com
Humberto Teixeira.
Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que se tornara sua secretária
particular, e por quem se apaixonou. O casal permaneceu até o fim da vida de
Luiz. Não tiveram filhos biológicos, por Helena não poder engravidar, mas
adotaram uma menina, a quem batizaram de Rosa.
Nesse mesmo ano Léia morreu de turbeculose, para desespero de Luiz.
O filho deles, apelidado de Gonzaguinha, ficou órfão com 2 anos e meio. Luiz
queria levar o menino para morar com ele e Helena, e pediu para a mulher
criá-lo como se fosse dela, mas Helena não aceitou, juntamente com sua mãe, Marieta,
que achava aquilo um absurdo, já que o menino nem era filho verdadeiro dele.
Luiz não viu saída: entregou o filho para os padrinhos da criança, Leopoldina e
Henrique Xavier Pinheiro, criarem-no no Morro do São Carlos. Luiz sempre
visitava a criança e a sustentava financeiramente. Xavier o considerava filho
de verdade e lhe ensinava viola, e o menino teve em Dina uma mãe.
Vida pessoal e
família
Luiz não se dava bem com o filho, apelidado de Gonzaguinha.
Passou a não ver mais o filho em sua infância, e sempre que o via brigavam.
Achava que ele não teria um bom futuro, imaginando que se tornaria um malandro
ao crescer, já que o menino tinha amizades ruins no morro, vivendo com
malandros tocando viola pelos becos da favela. Dina tentava unir pai e filho,
mas Helena não gostava da proximidade deles, e passou a espalhar para todos que
Luís era estéril e não era o pai de Luizinho. Luiz sempre desmentia, já que não
queria que ninguém soubesse que o menino era seu filho somente no registro
civil. Amava o menino de fato, independente de não ser seu filho de sangue.
Na adolescência, o jovem se tornou rebelde: não aceitava ir morar com o
pai, já que amava os padrinhos e odiava ser órfão de mãe, e dizia sempre que
Luiz não era seu pai biológico, o que o entristecia. Helena detestava o menino
e vivia implicando com ele, humilhando-o, e por isso Gonzaguinha também não
gostava da madastra, o que os afastou e causou mais brigas entre pai e filho,
já que Luiz dava razão à esposa. Não vendo medidas, internou o jovem em um
colégio, para desespero de Dina e Xavier. Gonzaguinha contraiu tuberculose aos 14 anos e quase morreu. Aos 16,
Luiz pegou-o para criar e o levou a força para a Ilha do Governador onde morava, mas por ser muito autoritário e a esposa destratar o
garoto, o que gerava brigas entre Luiz e Helena, Gonzaga mandou o filho de
volta ao internato.
Ao crescer, a relação ficou mais tumultuada, pois o filho se tornou um
malandro, viciado em bebidas alcoólicas. Gonzaguinha resolveu se tratar e
concluiu a universidade, tornando‐se músico como o pai.
Pai e filho ficaram mais unidos quando, em 1979, viajaram o Brasil juntos,
compondo juntos. Tornaram‐se, enfim, amigos.
Era maçom e compôs "Acácia Amarela" com Orlando
Silveira. Foi iniciado na Loja Paranapuam, Ilha do Governador, em 3
de abril de 1971.
Últimos anos, morte
e legado
Luiz Gonzaga sofreu de osteoporose por anos. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa
Joana, na capital pernambucana. Foi velado em Juazeiro do
Norte (a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o
mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao velório e
tornando Gonzaguinha perno non grata em Juazeiro do Norte) e posteriormente sepultado em seu município natal.
Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga que fica no complexo de Paulo Afonso-BA é uma homenagem ao cantor.
Em 2012, foi tema do carnaval da
GRES Unidos da Tijuca, com o enredo "O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou
na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão", fazendo com que a escola
ganhasse o carnaval carioca deste respectivo ano.
Ana Krepp da Revista da Cultura escreveu: "O rei do baião
pode ser também considerado o primeiro rei do pop no Brasil. Pop, aqui,
empregado em seu sentido original: o de popular. De 1946 a 1955, foi o artista
que mais vendeu discos no Brasil, somando quase 200 gravados. 'Comparo Gonzagão
a Michael Jackson.
Ele desenhava as próprias roupas e inventava os passos que fazia no palco
com os músicos', ilustra [o cineasta] Breno [Silveira, diretor de Gonzaga
— De pai para filho.
Foi o cantor e músico também o primeiro a fazer uma turnê pelo Brasil.
Antes dele, os artistas não saíam do eixo Rio - SP. Gonzagão gostava mesmo era
do showbizz: viajar, fazer shows e tocar para platéias do interior.
Em 2012, o filme de Breno Silveira,
Gonzaga, de Pai pra Filho, narrando a relação conturbada de Luiz com o filho
Gonzaguinha, em três semanas de exibição já alcançara a marca de 1 milhão de
espectadores.
>>> Link para acessar o Memorial do Luiz,
*Pesquisa/reprodução: JMiguel.