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A obsessão dos herdeiros da Casa Grande


Há tempo largo, a mídia cuida de excitar os herdeiros da Casa-Grande ao sabor de pavores arcaicos agitados por instrumentos cada vez mais sofisticados, enquanto serve à plateia da senzala a péssima educação oferecida pelo Big Brother e em companhia do sr. Pedro Bial.  

Levamos séculos para tirar das mãos dos poderosos a chave da Senzala. Estão aí o Fome Zero, o Bolsa Família, o Crédito Consignado, o Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, a Agricultura Familiar, o Prouni, as Escolas Profissionalizantes entre outras iniciativas sociais que permitiram à sociedade dos lascados, dos despossuídos,  conhecer o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram, qual seja, um salto de qualidade. No decorrer desses 10 anos é incontestável que milhões de brasileiros passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e daí  para a classe média.

Os donos da Casa-Grande só perderam parte de seu poder com a eleição de Lula, em 2002.  Somente a partir desse momento histórico  os mais pobres começaram a ter um pouco do básico, como comer, morar e vestir. A partir de Lula, o governo não foi feito só para atender os interesses da Casa-Grande. 

E é exatamente por isso que uma enorme campanha está sendo movida na grande imprensa, nos jornalões Folha, Estadão, na Rede Globo e na famigerada revista Veja,  os da Casa-Grande sabem que é preciso destruir Lula de qualquer jeito  para que eles cheguem ao poder e retomem  a chave e as taramelas da Senzala. 

Os da Casa-Grande sabem que poderão ter como cúmplices muitos dos que habitaram a senzala e muitos dos que, saindo dela e estando remediados, tornaram-se formadores de opinião. Os da Casa-Grande sabem que temos uma pré-disposição atávica para o servilismo como  já comentara Étienne de la Boétie  no século XVI, em livro célebre, sobre a servidão voluntária dos seres humanos.

Em Pedagogia do Oprimido, o educador Paulo Freire também comenta sobre a disposição dos oprimidos para se tornarem opressores.  Muitos da Senzala, por algum motivo, tendem a se identificar com os donos do poder. Os donos das terras, os donos das fábricas, os donos do comércio, os donos do dinheiro, todos os donos que não somos e que muitos queríamos ser.

Portanto, o inimigo a ser batido é Lula, o primeiro com força simbólica para se opor aos da Casa-Grande, que já não suportam a ideia de perder eleições a cada 4 anos, mesmo apoiados por seu grande braço, a grande imprensa brasileira.

E neste domínio da covardia e da raiva dos burgueses conservadores e da saraivada de insultos no calão dos botecos de arrabaldes e adjacências, simbolizados  pelos redutos paroquiais, há mesmo quem candidate Lula às chamas do inferno, em companhia dos inevitáveis Fidel e Chávez, como se estes fossem os amigões que Lula convidaria para uma derradeira aventura.

Os herdeiros da Casa-Grande até mesmo agora se negam a enxergar o ex-presidente como o cidadão e o indivíduo que sempre foi, ou são incapazes de uma análise isenta, sobra, de todo modo, uma personagem inventada, figura talhada para a ficção do absurdo. 

De certa maneira, a escolha da versão chega a ser mais grave do que a própria falta de reconhecimento dos méritos de um presidente da República decisivo como Lula foi. Um divisor de águas, acima até das intenções e dos feitos, pela simples presença, com sua imagem, em toda a complexidade, a representar o Brasil em tão perfeita coincidência de valores.
Jornal A Voz/ In Carta Capital
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