Sempre te pergunto: para onde estamos indo? Você não me responde e continua em silêncio. Seu silêncio me deixa inquieto; imagino que ele transmite a resposta que não quero ouvir. Será que Você quer me proteger ou me ludibriar quando, no eco do seu silêncio, tenta me iludir?
Olha, eu nunca deixei de acreditar em Você. Estamos sempre juntos. Você nunca me abandonou, seja na alegria ou na tristeza; nas vitórias ou nas derrotas. Nas minhas preocupações temporais, Você pede para eu não perder tempo me preocupando com o tempo. Pois o tempo é um fenômeno que se completa em si mesmo; não tem início, nem meio, nem fim. É o encontro do Tudo com o Nada que se completa no Todo.
Mais uma vez te pergunto: quem é o Todo? Você fica em silêncio, como a dizer: "me conhece há tanto tempo e não sabe quem eu sou". Então, eu penso: é fácil para Você não se importar com o tempo; afinal, Você tem poder sobre ele. Eu, pelo contrário, apenas procuro ser paciente e resiliente. Sei que, em algum momento, o tempo me deixará cara a cara com Você para prestar contas da missão que me foi dada. Quando isso acontecer, a angústia pode tomar conta de mim, porque Você irá julgar meu passado, e eu irei te perguntar: como ficará meu futuro se meu passado for condenado? Você me recrimina: "deixe de ser intempestivo, o futuro pertence a Deus; pense no presente". Digo, realmente, então questiono: mas o presente não é uma reconstrução do passado que projeta o futuro? Você responde afirmativamente.
A gente nunca briga, mas a minha teimosia, às vezes, é impertinente. Sei que Você é bondoso, justo e paciente. Não se aborrece com as minhas inquietações. Contudo, peço perdão pelas minhas impertinências. Na realidade, quero agradecer pelo muito que Você tem feito por mim e pedir perdão pelo pouco que tenho retribuído. Procuro lembrar que Você sempre ensinou o ato de doar. Você sempre diz que é doando que se recebe. Acredito nisso. Você diz: "acreditar sem praticar não faz efeito". Então, Você me lembra a passagem bíblica no livro de Tiago 2:18, onde está escrito: "Você tem a fé, e eu tenho as obras. Pois bem! Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé."
Olho para Você encantado e, ao mesmo tempo, envergonhado. É uma lição de moral extemporânea à altura dos meus merecimentos. Eu deveria ter aprendido esse ensinamento há muito tempo. Mas é assim mesmo; como dizia minha Avó: "Na vida, quem não aprende quando criança, de velho não passa." De repente, Você lembra: "Olha aí a sabedoria dos idosos! Eles são fontes de conhecimento inesgotável. A experiência que o tempo lhes concedeu precisa ser absorvida pelos jovens na construção do novo caminhar."
Então, eu questiono: por que os jovens são tão arredios ao ciclo dos idosos, se é aí que eles podem beber do conhecimento e da experiência que acumularam ao longo dos anos? Você responde: "a juventude é a fase educativa intermediária do crescimento humano; é a fase paradoxal entre o ser e o não ser. Nessa fase, o jovem vive em conflito com suas próprias convicções. O crescimento maduro e qualitativo só acontece na maturidade, após os 40 anos. Até essa idade, cada pedra no caminho representa um obstáculo. Somente a partir daí, com a maturidade, as 'topadas' serão evitáveis porque as pedras são conhecidas, o que torna a caminhada suave e evolutiva. Todo jovem tornar-se-á idoso para ser fonte de sabedoria, da qual o jovem do amanhã irá beber. A velhice deve ser vista como uma oportunidade de evolução, deixando o coração alegre, a alma leve e o espírito iluminado".
Novamente, fiquei encantado; não havia pensado de tal maneira.Tinha a velhice como um peso enorme sobre o corpo, como um castigo do tempo.
Mais uma vez, te agradeço pelas sábias lições. Sem quaisquer dúvidas, elas são a razão do meu equilíbrio entre o crescimento intelectual, material e espiritual, sem o qual o meu ser seria um vazio incognoscível.
Autor: JMiguel