Tragédias que causam mortes também inspiram à reflexão
para compreender a vida numa dimensão mais profunda.
No começo, quem poderia imaginar que 2020 passará para
a história do século XXI como o ano que irá deixar marcas indeléveis e dividir
o tempo em "antes" e "depois" do coronavírus?
Essa é uma das grandes tragédias que já pegaram a
humanidade de maneira surpreendente e indefensável, e não se tem certeza de
como tudo isso terminará.
Será mais um relevo cheio de percalços no longo
caminho rumo a um estágio mais evoluído da humanidade? Ou é simplesmente a
conta a ser paga pela consequência da prepotência humana que ameaça a vida
planetária?
Como não há resposta objetiva para estes
questionamentos, restam especulações de alguns, enquanto outros ficam com suas
próprias convicções.
Seja qual for o destino, o coronavirus já revelou as
contradições de um sistema econômico que ainda não proporcionou o bem-estar
social capaz de viabilizar o equilíbrio das relações humanas. Pois, enquanto
numa ponta concentram a acumulação de bens e a riqueza, na outra a desigualdade
e a pobreza aumentam exponencialmente, gerando desorganização e violências.
Como equalizar a balança da PAZ e da JUSTIÇA SOCIAL se
o pêndulo não encontra o ponto de equilíbrio? É complicado. Ademais, essa
estrutura excludente aniquila os esforços da pacificação social e fulmina
direitos fundamentais da pessoa humana.
No Brasil, a pandemia escancarou a pobreza até então
invisível por muitos brasileiros. Apesar das mazelas já conhecidas, ficou
evidente uma pobreza maior do que se imaginava.
Porém, a pandemia que revelou a pobreza oculta, trouxe
medo, incerteza e insegurança; também aproximou famílias, criou e renovou laços
afetivos, aumentou a rede de solidariedade e proteção social.
A superação de desafios, que se potencializa nas
adversidades, torna as pessoas mais fortes e resilientes diante dos infortúnios
da vida.
O "novo normal" que se vislumbra assentará
na perspectiva de um novo caminhar, de um novo olhar, onde, se afastando do
obscurantismo do "antes", possa-se (re) encontrar com o iluminismo do
"depois", num descortinar de um tempo novo.
Por tudo isso, pode-se cogitar que tais fenômenos
seguem um processo evolutivo em que se desencadeia, também, nas tragédias e no
sofrimento.
Assim, 2020 ensina a humanidade redescobrir novos
caminhos que poderão levar a uma nova ordem mundial, mesmo que esta ocorra num
tempo remoto. É o que se espera.