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O "deus mercado", enfim, mostra sua cara.

Lula Miranda
O presidente do Banco Central, o economista Alexandre Tombini, declarou em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que o "mercado" entendeu mal as falas da presidente Dilma na África do Sul. Ora, o mercado, essa abstração abjeta, não entende nada; não apita nada! Ao menos não deveria. Mas, desgraçadamente, faz um ruído danado.
Aqueles que não "entenderam" a mensagem da presidenta, ou se fizeram de desentendidos, foram alguns agentes econômicos, aqueles mais "oportunistas" e "vorazes" ou, digamos, "usurários" – com o perdão do pobre vocábulo. Estes, desde sempre, desejam pautar o/a presidente da República, o próprio presidente do Banco Central, a mídia corporativa e alguns dos chamados "colunistas de opinião" – que, aliás, quase sempre, a rigor, nem sequer possuem opinião; possuem preço.
Eis que o tal deus mercado finalmente perdeu a vergonha e mostrou a sua face infame. Eis que descobrimos que "Ele" possui CPF, R.G. (ou CNPJ), e tem aquele sorriso sacana de quem ganha muito dinheiro ao custo da inocência e pobreza de muitos; da inocência e pobreza do povo brasileiro.
O "deus mercado", em verdade, é "fulano", "beltrano" e "sicrano" – quase sempre um "consultor" ou um "especialista". Quando não um "inocente útil". Útil sim, mas inocente?
O que ninguém informa é que esses "consultores" ou "especialistas" trabalham, quase sempre, para um banco ou para um fundo de investimentos. Advogam, portanto, em causa própria ou de terceiros.
Em alguns casos trabalham para um daqueles dois ou três "megaespeculadores" transnacionais, que, por sua vez, não criam um emprego sequer no país e vivem de sugar a nossa riqueza através de arbitragem e sub-reptícias jogadas nas roletas do cassino das finanças internacionais.
Um chegou a declarar, recentemente, a um prestigiado jornal brasileiro – e teve espaço para tanto! – que "aquela senhora está tornando impossível investir no Brasil". Ou seja, blefou e disse que não aplica mais o seu rico e sujo dinheiro no país dessa tal "senhora" [referia-se, claro, à presidenta Dilma Rousseff]. Vejam bem! É mais ou menos, grosso modo, como a raposa reclamar ao sitiante que o dono da granja mandou colocar uma tranca e uma tela reforçada no galinheiro! E ainda tem gente que dá crédito para um cidadão como este que, nas páginas do mesmo jornal, ainda tem a desfaçatez de exibir seu modo de vida de... "playboy". Façam-me um favor!
O fato, para além das mentiras e manipulações dos grandes jornais, é que os banqueiros detestam juros baixos porque estes diminuem/reduzem seus lucros astronômicos e subtributados. Tá certo, "venhamos e convenhamos", que diminui apenas um pouco, mas para banqueiros e agiotas já viu... Você conhece bem o apetite e o caráter desse tipo de gente.
O fato é que os donos da banca privada estão bastante incomodados com essa apenas incipiente – frise-se o incipiente – política de juros "baixos" que o governo Dilma tenta implementar aos poucos. Mas que pela grita que se ouve e lê por aí desse tal "deus mercado" não vai durar sequer um semestre.
É deplorável que não tenham enforcado o último banqueiro nas tripas do último padre pedófilo – parodiando aquele receituário atribuído por vezes a Diderot e outras vezes a um suposto ideário dos anarquistas [e anarquista por acaso tem ideário?] em um dado período da nossa história, mas que em verdade teria sido proferido por um padre francês.
Por falar em usura e em banqueiro, você que, como eu, se diz "de esquerda", já transferiu sua movimentação bancária para um banco público? Eu já fiz isso e estou muito bem, obrigado. Tá certo que esses bancos ainda precisam melhorar – e muito – os serviços prestados. Aliás, assim como os bancos privados – diga-se.
Que se estrepe esse tal "deus mercado" que mais se parece com um grotesco e barulhento bezerro de ouro ou com um avaro belzebu!
Depois reclamam que as nossas galinhas não voam! Também, servindo de repasto a essas raposas vorazes, as "bichinhas", coitadas, não podem sequer se aventurar a descer do poleiro.

Lula Miranda

Lula Miranda é poeta, cronista e economista. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média

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