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Dilma: Uma política apolítica

Dilma Rousseff
A presidente Dilma Rousseff, construiu sua história em circunstâncias excepcionais, para não dizer inéditas. Mineira de Belo Horizonte, entrou na vida política ainda jovem, quando militante da VAR-Palmares, uma das maiores organizações de esquerda do Brasil. Torturada pela ditadura militar nos anos 70, mudou-se para Porto Alegre, onde graduou-se em economia pela UFRS.


Em 1980, ajudou a fundar o PDT ao lado do líder político Leonel Brizola, participou do governo de Olívio Dutra, ocupando o cargo de Secretária de Minas e Energia. Filiou-se ao PT em 2001; ajudou a campanha do então candidato Lula, em 2002; em 2003 foi convidada pelo recém eleito Presidente Lula para assumir o ministério de Minas e Energia, onde teve papel importante na reestruturação do setor elétrico brasileiro. No meio da crise do mensalão, foi deslocada para a Casa Civil, de onde se projetou para sair candidata a Presidente da República, sob a batuta do seu criador, o Presidente Lula, sendo eleita no segundo turno das eleições de outubro 2010.


Personalidade forte, convicções firmes, tem dificuldades de convivência na seara política. Ao longo de sua jornada, nos ministérios em que representou, contrariou interesses de grupos que sempre comportaram como “carrapatos” incrustados na Administração Pública, a exemplo de Eduardo Cunha, político de histórico controvertido, que por muitos anos tornara FURNAS seu feudo político.


Desde seu primeiro mandato não demonstrou vocação, nem habilidade para o ambiente político, o que lhe custou enormes dificuldades na aprovação de matérias de interesse do governo, sofrendo várias derrotas importantes no Congresso Nacional. Mas, talvez, a pior delas foi a que, por erro de cálculo do próprio governo, criou condições para a eleição de Eduardo Cunha a Presidência da Câmara dos Deputados. A partir dali ficou desenhada a relação conflituosa na convivência entre a Câmara e o Executivo. Eduardo Cunha, um político calculista, conhecedor como nem um outro do regimento interno da Câmara, utilizou-se de suas atitudes malévolas para traçar   o caminho da vingança.


Dilma demorou a entender que a função de Presidente tem na essência mais natureza política do que técnica, principalmente em se tratando de um sistema político como do Brasil, onde há uma “salada” de partidos, sem a menor vocação ideológica, formado apenas para a manutenção do status quo ou para a conquista de interesses oblíquos. Faltou a Dilma inspiração àA Mandrágora” (a Mandrágora é uma peça de teatro escrita em 1518 por Maquiavel, onde ele conta a história de um jovem florentino que deseja furiosamente conquistar uma mulher casada, para tanto, utiliza-se de métodos não convencionais, se passando por médico, e a mandrágora, uma planta afrodisíaca, é o instrumento para a conquista do seu intento).

A ojeriza à política pela Presidente levou a fragmentação de sua base de apoio no congresso e criou inimigos ocultos, inimigos estes, muitos deles, com cargos importantes no governo, usufruindo das benesses do poder, ao tempo em que ensejava condições para o “bote” (traição). A base do governo sempre foi formada, na maioria, por partidos de ideologias conservadoras, em que não se comunga, portanto, com as ideias do PT e os demais partidos do arco de alianças à esquerda.

 

Trabalhar a política num ambiente em que os interesses personalíssimos sobrepõem aos coletivos, requer muita habilidade e jogo de cintura para que não seja preciso entregar os anéis sem lesionar os dedos. Foi neste cenário político que Dilma se perdeu totalmente; derrotas importantes no Congresso, deixaram seu governo cada vez mais engessado, inerte e fragilizado diante de segmentos sociais frustrados ao ver promessas não cumpridas, assim como uma classe média revoltada por sentir seu poder aquisitivo corroído pela inflação, além do desgaste político com setores sociais, tradicionalmente apoiadores do PT.

A partir do dia em que saiu o resultado das eleições, em 2014, o governo deixou de ter paz. Encurralado por uma oposição odiosa, representada pelo PSDB, DEM e PPS, que não aceitou a derrota, somando-se a isso os fatores negativos na economia como desemprego crescente, inflação em ascensão etc., assim como a oposição reacionária da imprensa conservadora, em que busca diuturnamente a desconstrução do governo e do PT, foi sendo preparado o ingrediente para o golpe final: aprovação da admissibilidade do impeachment.


Na atual situação embaraçosa em que se encontra o governo, sem base mínima de sustentação, praticamente inviabiliza a continuidade de poder. Cabe a Dilma buscar estratégias políticas, no sentido de dar nova orientação de rumo, visando retirar o país do atoleiro em que se encontra e reconquistar a confiança dos vários segmentos sociais, políticos e econômicos da sociedade brasileira. Isso, talvez só será possível com aprovação de uma PEC, estabelecendo uma nova eleição para presidente da república, juntamente com as eleições municipais. Inclusive, já se fala em proposta nesse sentido formulada por alguns senadores, o que não deixa de ser uma luz no fundo do túnel. Vamos torcer.

 

 

 JMiguel

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