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“Castigo a militares não é vingança, mas ato social”

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Facebook atropela jornais na oferta de notícias

A esmagadora maioria dos jornais, revistas e telejornais sempre encarou o Facebook como um lugar para fofocas, confidências e exibicionismo, mas pesquisas recentes mostraram que a maior rede social do planeta já é a fonte de notícias para 30% da população adulta dos Estados Unidos (cerca de 72 milhões de pessoas), o único país a ter estudos detalhados sobre o tema.
pesquisa divulgada na penúltima semana de outubro pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos, sinaliza duas questões ainda mais relevantes para a imprensa do que os dados numéricos. Em primeiro lugar indica uma mudança radical na forma como as pessoas chegam até a notícia, especialmente os jovens com menos de 25 anos. Em segundo lugar mostra o surgimento de uma dependência mútua entre jornais e a rede Facebook, algo impensável até pouco tempo atrás.
Com pouco mais de um bilhão de usuários e caminhando rapidamente para o bilhão e meio, a rede Facebook transformou-se numa espécie de grande aldeia virtual graças aos relacionamentos interpessoais e agora também aos negócios que estão se instalando na rede criada em 2004 num dormitório de estudantes na Universidade Harvard. Era inevitável que, atraindo tanta gente, ela acabaria servindo também para circular notícias, quebrando o monopólio da imprensa.
O papel das redes sociais na maneira como as pessoas se informam ainda é um assunto pouco estudado e quase um tabu entre os jornalistas. Mas os dados revelados pela pesquisa do Pew, embora relativos apenas à realidade norte-americana, servem como um indicador de tendências, inclusive para o Brasil, que está hoje entre os três países do mundo com maior numero de usuários do Facebook. As últimas estimativas nacionais apontam um total de 65 milhões de brasileiros vinculados à rede.
As pessoas já não saem mais à cata de notícias, mas esbarram nelas quando estão navegando na internet, especialmente quando circulam virtualmente em ambientes visitados por milhares de pessoais ao mesmo tempo, como é o caso do Facebook. Interesses específicos sobre algum tema, produto ou pessoa são o principal alvo dos usuários da internet. O acesso notícia jornalística passou a ficar condicionado a esses interesses, salvo nos casos de algum acontecimento extremamente importante para a coletividade.
Trata-se de uma mudança relevante no comportamento da média dos consumidores de notícias. Até agora estar bem informado era uma qualidade muito valorizada e um status adquirido pela leitura minuciosa de jornais, revistas e livros. Na era digital, estar bem informado já não é mais tão importante. Essencial mesmo é estar integrado em redes sociais porque é nelas que se sabe de tudo.
Nas redes sociais, a notícia é algo coletivo e colaborativo, graças à predominância das recomendações e referências, mas ao mesmo tempo individual, já que normalmente as sugestões são feitas de pessoa a pessoa. É uma situação diferente da mídia convencional, onde a notícia era produzida e publicada visando atingir o maior número possível de indivíduos – justo o oposto do que acontece no Facebook, por exemplo.
As redes sociais, como o Facebook, estão rapidamente se transformando em parceiras da imprensa. Redes e jornais tendem a uma dependência mútua porque elas são imbatíveis da disseminação de notícias, mas a imprensa ainda é, e provavelmente continuará tendo, um grande peso na seleção, checagem e contextualização de dados, fatos e eventos dotados de relevância social.
A gigantesca capilaridade e a interatividade interpessoal nas redes sociais virtuais viabilizam uma distribuição rápida e a custo quase nulo das notícias, condições que se tornaram inacessíveis para a imprensa convencional devido ao alto custo operacional. Além disso, as redes permitem que os jornalistas possam exercer uma função curadora ao filtrar e selecionar a enorme quantidade e variedade de dados dotados de noticiabilidade, ou seja, de ineditismo, relevância, pertinência e confiabilidade.
Redes como o Facebook tendem a ser, simultaneamente, fonte e ferramenta de disseminação de material jornalístico. Mas para que a parceria redes-imprensa funcione, o jornalismo terá que se adaptar à nova realidade, na qual ele não é mais a referência absoluta em matéria de noticia, mas uma parte do processo. A realidade do quotidiano está condenando os jornalistas a trabalhar com as redes e em rede. Já no andar de cima, o dos executivos da imprensa e das redes, a parceria pode demorar muito a acontecer porque estão em jogo egos e fortunas.
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Capitalismo não apresenta mais saídas para a crise, diz historiador

Lisboa - Por que discutir Marx hoje? Afinal, não diziam (alguns ainda insistem em dizer) que o marxismo está morto e enterrado? Fomos ouvir o que opinam sobre o assunto dois especialistas portugueses e participantes do II Congresso Karl Marx: os historiadores Fernando Rosas, um dos organizadores do congresso e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Manuel Loff, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 

Fernando Rosas:  “Capitalismo é incapaz de encontrar saídas para a crise”

Por que mais um Congresso sobre Karl Marx?

É o segundo (o primeiro foi em 2008) e pareceu-nos que era altura de convocar outro numa situação de crise internacional, de crise do capitalismo em grande escala, com reflexos económicos, sociais e políticos tremendos, e em que a leitura, o estudo, o regresso a Marx e aos contributos do marxismo parecem indispensáveis para compreender e atuar nesta situação. E neste sentido achamos que era exatamente este o momento de tornar a realizar um congresso. Tivemos cerca de 70 contribuições, praticamente sobre todos os domínios, economia, política, estética, movimentos sociais, luta de classes, história…

A crise económica iniciada em 2007/2008 comprova a falência do capitalismo e a necessidade de retomar com mais intensidade as ideias marxistas?

Exatamente, ela prova que Marx tinha razão ao dizer duas coisas muito importantes: o capitalismo quanto mais durava, mais putrefacto e parasitário se tornava. O capitalismo deixa sequer de produzir, e a atual crise é uma crise em grande parte fruto do caráter crescentemente parasitário do capitalismo, do caráter puramente especulativo, financeiro. Isso vem ao encontro daquilo que eram uma das grandes linha de previsão de Marx. E que as crises iam se tornando, simultaneamente mais frequentes, e sobretudo mais profundas e prolongadas.

Estamos em crise desde 2007, 2008, sem nenhuma perspetiva de saída fácil à vista, o que coloca o problema de que é preciso apresentar alternativas a este sistema político e buscar no horizonte socialista respostas a esta situação.

Portanto, é nas contribuições de Marx, e de outros também, que temos de buscar muitas das respostas às questões com as quais somos confrontados. 

O que é ser marxista hoje?

Há muitas correntes do marxismo hoje, não há nem nunca houve um marxismo.
Acho que o que unifica essas correntes todas é a conscientização de que o capitalismo é um sistema que chegou ao fim, como capacidade de resposta para os desafios da sociedade, e que temos de procurar uma solução alternativa em sociedades de outro tipo, em sociedades socialistas. Ainda que a própria concepção do socialismo seja objeto de polêmica. Mas que estamos a entrar na época do socialismo parece-me claro. O capitalismo está a entrar numa fase incapaz de encontrar saídas. Portanto, acho que as esquerdas por todo o mundo têm que buscar inspiração no socialismo para ver o caminhos que vêm a seguir. 

Então o neoliberalismo morreu?

O neoliberalismo é a expressão política e ideológica de um capitalismo desesperado e moribundo, disso não tenho dúvida nenhuma. 

Manuel Loff: “As notícias sobre a morte do marxismo eram exageradas”

O marxismo morreu ou renasceu no rescaldo da crise de 2007/2008?

O marxismo é uma proposta de leitura do mundo, que tem, como todas aquelas que resistem ao tempo, características suficientemente flexíveis para poderem ser aplicadas a qualquer contexto histórico. E isso só depende daqueles que quiserem utilizar essa forma de leitura do mundo. Outra história é se me perguntas se o marxismo como produção política, ideológica à escala internacional está renovada ou não. Como proposta de leitura da realidade ela está sempre presente e é evidente que todas as notícias sobre a sua morte algures no final dos anos 80 e início os anos 90 eram claramente exageradas.

E o capitalismo, está no fim? O marxismo pode ser uma ferramenta teórica para a construção de uma alternativa?

É uma ferramenta essencial. De resto, naquela que é uma das pré-condições essenciais para a construção de qualquer alternativa que é a conscientização da exploração, da opressão e da necessidade de emancipação. Agora, o que o capitalismo demonstrou e demonstra nos seus 200 anos, na fase industrial e pós-industrial, é uma enorme capacidade de renovação e resistência. Mas isso já sabíamos desde o início. O que não significa que a interpretação central de Marx das contradições essenciais do sistema capitalista não permaneçam perfeitamente válidas. 

Sim, mas o Marx até agora não conseguiu grande coisa...

Os marxistas conseguiram muitas coisas na transformação do capitalismo.
Conseguiram, em determinados momentos da história, o seu fim, a sua ruptura em várias escalas nacionais e numa grande escala internacional. E conseguiram o mal chamado Ocidente desenvolvido, que deu origem à versão mais consolidada do capitalismo que conhecemos, a partir de meados do século XIX, e que conseguiu transformações essenciais no período posterior à II Guerra Mundial. A tal ponto foram essas transformações importantes na construção de políticas sociais básicas, às quais hoje associamos à versão mais avançada de democracia sob as regras da permanência de um mercado capitalista, o Estado Social, que os neoliberais estão hoje totalmente apostados no seu desmantelamento.

O que é ser marxista hoje?

É antes de mais produto de uma vontade de conhecer de forma crítica o mundo, de nos equiparmos para uma capacidade de leitura independente, autônoma, das formas de ideologia dominantes e hegemônicas, que as nossas próprias condições materiais de vida nos impõem, nos ajudam a reproduzir e sob as quais vivemos. É também um convite, uma necessidade intrínseca à ação política no sentido da transformação. Como dizia o Marx, não basta simplesmente interpretar o mundo, é preciso transformá-lo.
Créditos da foto: Cristina Portella
Fonte: Carta Maior
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